Stellamaris entrevista

Stellamaris entrevista

Noise Artists (NA): De onde vocês são e o que fazem além da banda?

Somos do Rio de Janeiro, Suzana e eu somos irmãos, Suzana mora em Niterói, próximo da cidade e eu estou morando no interior a um ano e meio, ela é enfermeira e trabalha em hospitais, eu acabei de terminar a faculdade de engenharia e trabalhava em estaleiros na construção naval

NA: Vocês sonham em viver da música?

Seria um sonho pra mim, poder viver da música somente, mas hoje ela é paralela aos nossos trabalhos e família, Suzana tem uma filha de três anos, e eu estou procurando trabalho na área de engenharia.

NA: Como a banda começou e como decidiram fazer música juntos?

Nós tínhamos outra banda juntos, que acabou em 2007, nós estávamos em projetos musicais diferentes até que comecei a fazer musicas no estilo do MBV em 2012 e depois pedi para Suzana gravar os vocais nessas musicas, e foi assim que começamos

NA: Quais são as influências de vocês? Tem coisas de shoegaze e post rock com alguns toques de Stereolab, você pode falar mais sobre isso?

A principal influencia é musica pop em geral, rock alternativo dos anos 90, bandas de garotas, varias coisas da cena underground, as vezes alguém nos compara com bandas que eu nem mesmo conheço mas gosto de ouvir essas comparações, as influências óbvias pra mim são MBV, Astrobrite, Velour100, e Ringo deathstarr.

NA: Vocês sempre tiveram a intenção de fazer uma banda shoegaze quando começaram a Stellamaris? ou era diferente de como é hoje?

 Já queríamos fazer uma banda shoegaze mesmo, nós já tínhamos tocado outros estilos nos nossos projetos anteriores, como Power pop e punk rock, e dessa vez eu tinha em mente que queria tocar algo com mais barulho e reverb

Vocês têm outros projetos musicais além da Stellamaris?

Além da banda, estou gravando um projeto synth pop/ eletronica com um amigo, e quero tocar num grupo da igreja aos domingos, mas não sei se vão deixar eu participar.

NA: Você poderia falar da formação da banda? Tem planos de adicionar outros membros?

A banda mesmo somos minha irmã e eu, mas podemos chamar alguns amigos pra tocar com a gente ou gravar um video ou fazer qualquer coisa, podemos ter diferentes formatos, sem problemas

NA: Vocês tem um estilo não convencional em suas musicas, vocês se sentem intimidados ao gravar com alguém que não seja do estilo de vocês?

Sim, temos que trabalhar e gravar nós mesmos, é difícil achar alguém que entenda nossas intenções sonoras, e é muito ruim quando você tem que explicar porque usa tanto reverb ou porque toca o tempo todo com a alavanca da guitarra

NA: Vocês tem um jeito especial com as guitarras, timbres e melodias quase como conversando entre elas, você pode falar como trabalham com as guitarras?

As guitarras são a parte mais importante da nossa música, todo o resto são acompanhamentos para os sons das guitarras, então a gente tenta fazer sentido quando trocamos de efeitos e camadas de sons, fazemos isso testando e ensaiando, usando diferentes modos dos pedais, tentando combinar os sons ensaiando.

NA: Sobre as letras, quem as escreve? Há um tema em comum?

Eu escrevo as letras, as vezes elas são meio surreais, mas a maioria das vezes elas são sobre sentimentos reais, elas tentam expressar alguns sentimentos, como por exemplo em “seesaw” falamos sobre o sentimento de estar sempre voltando ao mesmo lugar que você não deveria, como um ex ou então quando se quer para de fumar, mas sempre volta aquela situação psicológica.

NA: Fale mais sobre as letras, elas saem fácil ou você se esforça pra escrever ? Há alguma mensagem que vocês queiram passar?

Sim, tenho que trabalhar pra escrever alguma coisa que traduz meus pensamentos, reescrevo varias vezes até achar as palavras. Não temos uma mensagem específica, as letras são fragmentos das nossas vidas, é mais como um diário ou as vezes elas são como uma poesia surreal.

NA: Com o crescimento da banda você pensa em mudar o estilo das musicas?

Quanto mais pessoas conhecem a banda, mais eu quero fazer melhor, compor musicas melhores, com ideias diferentes, eu gostaria de atingir mais pessoas com a nossa musica.

NA: O que você tem ouvido mudou nesses anos ?

Quando começamos em 2012/13 eu conhecia poucos artistas nesse estilo de musica, eu estava escutando A place to bury strangers e Asalto al parque zoologico, hoje conheço muito mais artistas no estilo shoegaze/noise de todos os lugares, estamos aprendendo, conhecendo outras bandas, e tentando coisas diferentes desde que começamos

NA: Vocês fizeram um música em colaboração com a banda Duelectrum que teve ótimo resultado, como vocês se conheceram, como gravaram? Pretendem fazer novas parcerias?

Obrigado, Filipe (Duelectrum) e eu nos conhecemos em 2005 através de cartas, ele escrevia artigos para algumas publicações e eu tinha um fanzine impresso naquela época, eu já era fan da banda dele e nós nos tornamos amigos desde então, quase dez anos depois quando mostrei pra ele meu novo projeto, ele me encorajou a levar a banda a frente, nós sempre conversamos sobre guitarras e quipamentos, e eu queria fazer alguma coisa envolvendo a banda dele e a minha, nós fizemos juntos a música “Fallen”  eu tinha os acordes e Filipe fez a letra e a melodia, ele gravou os vocais na casa dele em outra cidade, enviou os arquivos pra mim e eu mixei, no momento estamos trabalhando juntos em outra faixa. Adoraria ter mais colaborações como essa, com músicos de todo o mundo

NA: Como vocês decidiram tocar lo fi/ shoegaze, o que os levou pra essa direção ?

Decidi começar a banda quando fui em dois shows do Ringo Deathstarr, Em São Paulo e Rio, e depois desses shows percebi que também podia fazer aquilo, não era tão difícil quanto eu pensava, percebi que podia conseguir aqueles sons de guitarra com poucos efeitos e uma guitarra com alavanca

NA: Como é o reconhecimento de vocês no Brasil e fora do país?

Estou feliz com o reconhecimento que estamos tendo pouco a pouco, nós paramos entre 2013 e 2016 e a menos de um ano nós retornamos e muitas pessoas falam comigo sobre a banda na internet, sempre nos colocam em listas do soundcloud, tocamos em rádios on line, essas coisas me fazem pensar que estamos no caminho certo

NA: Vocês tem produtores e estúdios para indie rock no Brazil? Você pode descrever como é o processo de gravação de vocês em detalhes?

Sim, nós produzimos nossas gravações sozinhos, tem poucos estúdios no Brasil com produtores legais, então a melhor forma de gravar é  “ faça você mesmo ”  você pode gravar a bateria separadamente em um estúdio qualquer e trabalhar em casa com as faixas gravadas, ou usar loops, tem algumas opções, nós usamos equipamentos bem simples, uma interface USB e um programa de mixagem, você pode plugar microfone e instrumentos diretamente na interface. Para gravar guitarras, vocais e percussão nós usamos o microfone, e para gravar baixo e sintetizador nós plugamos direto na interface, que se conecta ao computador pelo cabo USB, e ai você pode editar tudo que foi gravado num programa de mixagem, fizemos esse processo em todas as musicas até agora
Uma coisa engraçada que acontece as vezes quando gravamos é que algumas coisas fazem barulhos em volta da gente, como um cachorro na vizinhança ou a filha de Suzana gritando perto da gente e as vezes essas coisas ficam por trás dos reverbs nas nossas gravações

NA: Sobre instrumentos, vocês usam principalmente a marca Fender, porque essa escolha?

O fato é que preciso desse sistema de alavanca dos modelos jaguar e jazzmaster pra tocar esse estilo “entortado” que alguns chamam de Glider, também escolho pelo design desses instrumentos, talvez seja também por causa do Kurt Cobain, eu prefiro single coils ,  adoro aquele som de veludo dos captadores fender vintage

NA: O que tem de tão especial no modelo jaguar?

A guitarra jaguar tem o braço mais confortável que já toquei, é o tipo “ short scale ” , esse mesmo tipo de braço aparece também no modelo mustang, eles são braços menores, perfeitos para mãos pequenas, a jaguar tem sete diferentes set ups embutidos, por conta da opção de um filtro e um circuito paralelo para o captador do braço, o timbre dela é bem brilhoso, e soa perfeito pros meus ouvidos combinado com distorções e fuzz

NA: Você tem alguns instrumento favorito?

Meu instrumento preferido atualmente é uma guitarra Squier jaguar com acabamento surf Green que consegui usada meses atrás e usei pra gravar “ Ultraviolet”

NA: Vocês experimentam muito ou tem uma idéia clara do que querem?

Nós experimentamos muito, mas temos algumas referencias de como queremos soar, hoje é mais fácil conseguir reverbs digitais e outros efeitos, meu pedal board agora é:
Marshall guv nor plus para distortion/little big muff fuzz/ Dunlop wha/ Boss bf3 flanger/ Boss dd6 delay/ Digiverb para modo reverse e Boss rv5 para reverbs mais longos
Ligados a um marshall transistor

NA: Quantos shows vocês gostariam de fazer em um ano ? Planejam tocar em outros países?

Se houver a chance de viajar pra outros lugares, seria bom tocar o máximo possível, adoraríamos ter dez ou vinte pessoas nos assistindo, mas pra fazer uma tour, mesmo pequena, precisamos de pessoas interessadas em assistir, transporte, lugares pra dormir, comida...

NA: Você pode nos falar sobre a cena indie no Brasil ?

Tem pessoas muito legais trabalhando na cena indie brasileira, algumas bandas que organizam seus próprios shows, alguns selos e blogs. No Rio eu admiro o selo Transfusão noise, eles tem um lugar muito bacana para shows pequenos no centro da cidade, tem também a Audio Rebel que é um lugar para shows e também é um estúdio e loja de música. Acho que em São Paulo tem mais lugares para tocar, TBTCI é um blog e selo de São Paulo que trabalha com bandas do mundo todo,

NA: Tenho ouvido bandas como Camille Claudel e Deveailish dear, parece que elas são mais conhecidas no Japão, é fácil pra uma banda brasileira ser conhecida internacionalmente?

Essas bandas são muito boas, eu também gosto delas, a internet torna possível esse tipo de coisa hoje em dia, você pode mostrar seu trabalho em qualquer lugar com mais facilidade, é muito bom que pessoas de tão longe possam interagir, como você e eu agora, dez anos atrás já havia internet, mas eu ainda estava mandando cartas com CDs pelo correio, gastava mais tempo e dinheiro e levava mais tempo ainda pra ter algum retorno, graças a internet artistas independentes podem ser conhecidos internacionalmente mais rapidamente hoje em dia.

NA: O cenário mudou desde que vocês começaram? Além do Rio, há alguma outra cidade com um cenário forte? Você poderia indicar algumas bandas indie/shoegaze/post-rock brasileiras?

Sim, muda o tempo todo, ao mesmo tempo que a internet torna tudo mais prático, tudo se torna menos orgânico também, muitos lugares fecharam, mas outros lugares e bandas começaram, acho que São Paulo tem uma cena maior, por ser uma cidade maior com mais opções culturais, algumas bandas do Brasil que recomendo são, Wry, Pin ups, The John candy, Duelectrum, Lê Almeida, Travelling wave, Tropicaos, Céus de Abril, My magic glowing lens, ...

NA: Vocês tem algum selo? Vocês investem muito para fazer as gravações?

Nós não temos um selo, nós gravamos em casa, então não gastamos muito gravando, a única forma que vendemos nossa música é através da página bandcamp, mas pode fazer download grátis, “ name your price”

NA: Chegando ao final,quais são os próximos planos ?

Nesse momento estamos gravando algumas músicas, uma para uma coletânea de bandas brasileiras feita pelo selo/blog TBTCI, mais uma música em parceria com o Duelectrum e mais outras para um novo ep pra lançar no bandcamp, também queremos fazer novos vídeos pra promover as músicas, esses são os planos para as próximas semanas.

Muito obrigado!  Valeu pela entrevista, umgrande abraço!

 

 

 

 

Is Columpios al Suelo's "Un dia Afuera" the best tribute to 80's britpop ever made?

Is Columpios al Suelo's "Un dia Afuera" the best tribute to 80's britpop ever made?

Stellamaris, lo-fi Shoegaze from Rio: interview and presentation

Stellamaris, lo-fi Shoegaze from Rio: interview and presentation